Mãe de menino morto afirma que não aceita desculpas de autoridades


A mãe do menino João Roberto, de 3 anos, que morreu depois de ser baleado na Tijuca , Confira as imagens da câmera de segurança do prédio em frente ao local onde o carro foi atingido ) afirmou que não aceita as desculpas das autoridades pelos erros que causaram a morte de seu filho. Em entrevista ao programa 'Mais Você', da TV Globo, a advogada Alessandra Soares teve uma crise de choro, e lembrou que antes de ser atingido pelos tiros, disparados por PMs, ela chegou a pedir ao filho para abaixar. (

- Não tem desculpa de secretário, governador. Só eu sei o que estou passando. A sensação que eu tenho é que ele terá que dar desculpa para outras pessoas. Tenho outro filho e temo muito pela vida desse outro filho. Eu não desculpo. Mamãe te ama. Eu disse pelo amor de Deus, meu filho, abaixa. E ele perguntou por quê mamãe? - dissa Alessandra, que ainda chorando muito disse à apresentadora Ana Maria Braga:

- O nome dele é João Roberto, não é um número, não é uma estatística. Ele é um menino, criado com muito amor, que tiraram de mim.

O pai do menino, o taxista Paulo Soares, também esteve no programa, que foi gravado na tarde da quarta-feira e foi ao ar na manhã desta quinta. Bastante emocionado, ele voltou a pedir justiça pela morte de João Roberto, e lembrou dos últimos momentos antes de saber que o filho havia sido baleado por policiais militares.

- Meu filho não pode ter morrido em vão.

No mesmo programa, a apresentadora recebeu o secretário de Segurança Pública do Rio, José Mariano Beltrame. Visivelmente abalado, ele afirmou que os policiais envolvidos, que na terça-feira foram presos temporariamente na terça-feira por determinação da Justiça , serão expulsos. Beltrame, no entanto, defendeu a instituição da Polícia Militar como um todo, e disse que antecipou a chegada de armas não-letais para a polícia do Rio.

- Apesar desses problemas, a Polícia Militar não pode ser tratada como uma 'Geni'. - disse Beltrame, ressaltando ainda que apesar dos problemas, o Rio de Janeiro não está fora de controle.

Tiros também podem ter vindo de bandidos

A perícia deve concluir nesta quinta-feira a análise no carro da mãe de João Roberto. Até agora, os peritos constataram 17 perfurações na traseira do carro. No interior do veículo foram, encontrados 16 fragmentos de balas, que serão comparados com as armas dos PMs. Três perfurações, no entanto, chamaram a atenção dos peritos: foram feitos no vidro dianteiro do carro da família. As marcas sugerem que pode ter havido, pelo menos, dois disparos vindos do lado oposto de onde estavam os policiais.

De acordo com o Walter Alves, responsável pela investigação da morte de João Roberto, uma testemunha contou na delegacia que viu os bandidos disparando durante a perseguição.

- Ele viu o carro dos assaltantes passarem realmente atirando. Inclusive, ele descreve o tipo de armas que ele tava usando - contou o delegado.

Para o ex-instrutor da Polícia Militar do Rio, Paulo Storani, especialista em abordagens, no entanto, afirma que mesmo na hipótese de os PMs terem reagido ao som de disparos, a ação foi errada, de acordo com as normas da corporação.

- O policial só pode usar arma se sua vida ou de terceiros estiver sendo colocada em risco, de forma que os tiros tivessem sido dados na direção deles ou de terceiros. Não é o caso, as imagens não conseguem nos mostrar isso. Levou a decisão equivocada e aconteceu um erro gravíssimo de trabalho - comentou.

A Secretaria de Segurança Pública (SSP) decidiu nesta quarta-feira submeter, nos próximos meses, t odos os soldados e cabos da PM dos batalhões da capital que patrulham as ruas a cursos rápidos para rever as técnicas de tiro e de abordagem de suspeitos . Já a realização de uma reciclagem completa - considerada essencial por especialistas, já que os soldados podem ficar até dez anos sem rever todos os conceitos aprendidos - ainda não tem data para acontecer .

Na quarta-feira, o secretário Nacional de Direitos Humanos, ministro Paulo de Tarso Vannuchi, criticou a ação da Polícia Militar do Rio de Janeiro no episódio da morte do menino João Roberto, de 3 anos. Segundo ele, é preciso uma reformulação completa da polícia. PMs reclamam da falta de investimento no aperfeiçoamento da carreira. Vannuchi disse que o menino é a mais recente vítima da insensatez de velhas práticas adotadas na área de segurança pública. Na opinião do ministro, é preciso evitar a volta da discussão sobre redução da maioridade penal e também as "ações espetaculares" da polícia com a subida em morros no Rio de Janeiro.

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