'A favorita': Augusto César não convence
Por um lado, o Augusto César de “A favorita” está dando ao público a oportunidade de ver José Mayer num personagem que de macho alfa não tem nada — ou quase nada. Pelo contrário. Por exemplo, ele tenta resistir aos apelos de Juliana Paes, a jornalista Maíra e um sex symbol nacional. Para isso, já se jogou até na água gelada do rio e chama a moça de “demônio”.
Mayer é um ator cheio de possibilidades, isso todo mundo já sabia, e agora tem a chance de mostrar algo diferente. Mas o problema é outro e não tem a ver com o bom trabalho dele: está difícil ver alguma verdade nesse personagem. Augusto César acredita em disco voador, só come bardana e afins e sequer deixa o filho estudar. Ele concentra uma quantidade tão grande de clichês inconformistas que é praticamente uma espécie de arauto da recusa.
Diferentemente de outros personagens da novela, que, com suas várias facetas de vilões e mocinhos revelam o grande talento de João Emanuel Carneiro em construir tipos, esse não é um caso de ambigüidade, mas de indefinição. Com tantas questões existenciais e conflitos sérios com o filho adolescente, Augusto César é um personagem cômico? É dramático? É comédia malsucedida ou drama que não engrenou?
Nos últimos capítulos da novela, nem a direção de Ricardo Waddington pareceu levar fé nele. O ex-músico foi parar em São Paulo, atrás do filho que fugiu do idílio rural onde eles vivem. Mas bastou ele chegar na cidade grande para que o som das buzinas invadisse as suas cenas, como se a verossimilhança precisasse ser sublinhada.
Com sua performance, José Mayer já salvou o personagem do ridículo algumas vezes. Mas ainda falta o autor achar um caminho para ele. Ou não vai ter jeito.
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